A vida espiritual e o caráter do missionário
A
vida espiritual e o caráter do missionário
INTRODUÇÃO
A ligação entre a espiritualidade cristã, como
seguimos a Cristo e a missão, como o servimos é um assunto que precisa de
frequentes reflexões, especialmente quando o abismo entre a fé e a vida parece
crescer. Em nossos dias há um claro desacordo entre o conhecimento adquirido,
bíblico e teológico e o cumprimento da missão. Falar de espiritualidade é,
sobretudo, referir-se ao Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai
e do Filho, é o Espírito Santo que nos inspira e nos leva à realização de
nossos projetos, sugere e torna realidade os nossos sonhos. Ele opera em nosso
ser e em nosso caráter para que possamos exercer o chamado, neste caso
especifico ao trabalho missionário.
I. Espiritualidade
O homem é um ser espiritual, ele
nasce com este elemento no seu ser é por isso que as pessoas sempre estão em
busca de uma religiosidade, seja ela cristã ou em outras religiões. A
espiritualidade bíblica nada tem a ver com a ascese, também é diferente do
misticismo. A real e verdadeira espiritualidade é assimilada da vida divina
pelo homem que recebe a Cristo. É importante compreender que a Palavra de Deus
não divide o homem em duas partes alma e corpo como alguns afirmam. Pelo
contrário, trata o homem como um ser tripartido; espírito, alma e corpo (1 Tes. 5. 23,24). Outras partes da
Bíblia fazem a mesma diferenciação entre espírito e alma (Hb. 4.12). Vamos compreender a distinção entre esta tricotomia.
Em Gênesis 2.7 Deus criou o
homem, do pó a terra, quando o fôlego de Deus entrou no corpo do homem, se
converteu no espírito do homem, mas quando o espírito reagiu com o corpo, se
criou a alma. Desta forma podemos deduzir que, o espirito do homem é a
consciência que ele tem de Deus, pois, é o sopro de Deus nele, a alma é a
consciência da existência humana que se utilizada dos nossos sentidos
sensoriais,(olfato, paladar, tato, visão e audição) e o corpo é a
substância material, assim o espírito atua sobre a alma, e a alma, por sua vez,
se expressa por meio do corpo.
Quando o homem foi criado no Éden estava num estado de inocência, ou
seja, não havia o conhecimento do pecado. Com queda o homem foi drasticamente
afetado, uma vez que, houve o que
chamamos morte espiritual, visto que a comunhão com Deus foi quebrada. O homem
continuou a ser, um ser espiritual, mas, se voltou para idolatria foi criando
deuses e formas de adoração para que pudesse exercer seu lado espiritual.
Com a vinda do filho de Deus,
o homem recebeu novamente a oportunidade de reatar ou se reconciliar com Deus,
e novamente receber a verdadeira espiritualidade só que agora com a presença
divina no seu ser (1 Co. 6. 19). A espiritualidade é a face
identificadora do cristão verdadeiro. É nela que se percebe a qualidade
do testemunho revelado ao mundo, que
se norteiam os caminhos da vida transformada, e que se encaminha o salvo para a
glória e recompensa eterna. O homem espiritual é
aquele que tem conseguido através da operação do Espirito Santo, combinada com
sua efetuação correspondente (Fil. 2.
12,13), algum grau de espiritualidade que o separa dos demais homens que
podem ser chamados naturais, ou carnais (I
Cor. 2. 14; 3.1). Ele tem progredido na sua transformação à imagem de
Cristo (Rm. 8.29; II Co.3.18).
A nossa real
e verdadeira espiritualidade tem inicio quando somos iluminados pelo Espírito
Santo na compreensão do Evangelho (Ef. 1.
13,18), a partir daí recebemos de Deus todos os privilégios concedidos pela
graça, fé, arrependimento, conversão, justificação, adoção, regeneração,
santificação e por fim virá a glorificação. Podemos perceber que todos esses
elementos formam todo o processo da nossa salvação. Talvez você possa estar
pensando o que tem tudo isso haver com a chamada missionária, tem tudo haver, não
somente com a chamada, mas, também com o caráter que é produzido na vida dos
escolhidos por Deus, porque ninguém que não tenha passado por esses estágios
pode receber um verdadeiro chamado de
Deus para realizar a obra missionária. A chamada de Deus para o ministério seja
ele em que área for terá como base a nossa experiência com Deus, ou seja, a
transformação efetuada pelo Espírito Santo e a vida de comunhão e santidade
diante de Deus.
A espiritualidade e a formação
espiritual são questões que envolvem a vida como um todo. Para o ser humano,
uma “vida espiritual” consiste no conjunto de atividades
em que, o nascido espiritualmente
pela iniciativa de Deus e por intermédio da Palavra, (Jo. 3. 5 – 6), o indivíduo interage de forma cooperativa com Deus
e com a ordem (“reino”) espiritual derivada da personalidade e das ações de
Deus. O resultado é toda uma qualidade nova de existência humana (regeneração)
com poderes novos correspondentes. Uma pessoa é “um ser espiritual” à medida
que sua vida é integrada de fato no reino ou no governo de Deus e dominada por
ele. Vejamos algumas características que precisam ser encontradas no homem
espiritual.
1.
1 Características
da Espiritualidade:
Uma espiritualidade marcada por
um forte ensino (At. 2.42)
A pouca ênfase dada ao ensino em determinadas igrejas tem
feito surgir missionários que se caracteriza principalmente pelo culto “show”:
a música vazia de significados, o milagre como mercadoria, Jesus como uma
espécie de mágico. A consequência desta proposta é que os futuros membros
terminam caindo numa vida legalista, com ênfase nos costumes, em detrimento das
questões pertinentes à vida cristã. Problemas de família, comportamento ético,
relacionamento e influência da Igreja na sociedade, a vida de comunhão com os
irmãos. Não existe espiritualidade missionária sem um forte ensino e compreensão
da Palavra de Deus.
Uma espiritualidade marcada por
uma atitude comunitária
Primeiro: o fato de aqueles primeiros cristãos estarem impactados
pelo Espírito Santo levava-os à busca uns dos outros. Viviam em comunhão
fraterna. Segundo: essa
espiritualidade impedia que houvesse entre eles “necessitados”. Tornaram-se
capazes de dividir a riqueza e a pobreza. Socializaram a vida e os bens (At. 2.44,45; 4.34,35). A
espiritualidade cristã implica em dividir.
Uma espiritualidade marcada por
uma forte atitude de oração
As orações eram uma prática diária daqueles irmãos (At. 2.42). E as orações tinham
conteúdo missionário (At. 4.29);
buscavam os milagres (v.30); tinham consequências sobrenaturais, e geravam
segurança quanto à missão (v.31).
2.2 Consequências da espiritualidade:
Uma espiritualidade marcada fortemente pelo ensino,
comunhão e oração gerou uma Igreja com características missionárias ímpares:
Era uma Igreja que conquistava a
simpatia do povo
Era uma igreja alegre, em consequência dos milagres,
prodígios e sinais (At. 2.43), da
comunhão fraterna (At. 2.46), das
atitudes de louvor informal (At. 2.47;
3:8-9). Por estas razões, era uma Igreja bem recebida por todos (At. 2.47).
Era uma Igreja comprometida com a
verdade
Tomamos aqui a palavra "verdade" como sinônimo de
atitude transparente diante de Deus e dos homens, como ocorreu no caso de Ananias
e Safira (At. 5:1-11). Esta questão
de transparência na igreja tem sido extremamente negligenciada por nossas
igrejas, mas à luz deste texto, é inviável pensar-se numa espiritualidade que
não desemboque numa atitude honesta, transparente com Deus e com os homens.
Era uma igreja organizada (At.
6:1-7)
A explicação para se organizar a Igreja estão no verso 1º
do cap. 6 de Atos, mas a explicação para o crescimento numérico está no
resultado das múltiplas ações do Espírito Santo na vida da Igreja:
*Reação à pregação da Palavra (At. 2.42)
*Reação ao estilo de vida da Igreja (At. 2.47)
*Reação às ações sobrenaturais do Espírito Santo
(At. 5.12-15)
A
espiritualidade leva a Igreja ao crescimento numérico. E o fato da Igreja se
organizar é mais um dos fatores que contribui para o crescimento numérico (At. 6.7)
Era uma Igreja disposta a romper
com os preconceitos
*1º preconceito rompido: sofrer perseguições sem
revidar (At. 7.55-60 e At. 9. 26-30)
*2º preconceito rompido: ir além da fronteira
religiosa e geográfica (At. 8:4-8)
*3º preconceito rompido: capaz de romper com sua
própria cultura (At. 10.30 e At. 11.18).
Espiritualidade missionária e a missão
da Igreja
A esta altura da história da Igreja, em Atos, podemos
afirmar que ela estava preparada, amadurecida para dar voos mais amplos,
alcançar outros povos, costumes, nações, etc. Foi o que aconteceu a partir de
Atos 13.
Parece-nos que a espiritualidade missionária, do ponto de
vista bíblico, vai além da ação templocêntrica e religiosa, festiva, hipócrita.
Significa mais uma prática de vida cristã pessoal, comunitária e social. É
consequência da ação do Espírito Santo na vida das pessoas e da Igreja.
2. O que é Caráter:
Caráter é um conjunto de características e traços
relativos à maneira de agir e de reagir de um
indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de
atitudes. O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão
determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e
firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e
comportamento. Uma pessoa conhecida como "sem caráter" ou "mau
caráter", geralmente é qualificada como desonesta, pois não apresenta
firmeza de princípios ou de moral. Por outro lado, uma pessoa "de
caráter" é alguém com formação moral sólida e incontestável.
Quando
Falamos de caráter logo pensamos nas atitudes morais de uma pessoa, todos nós
sabemos que para ter um comportamento moral adequado não precisamos
necessariamente ser cristãos, pois, essa qualidade moral foi adquirida já no
Éden, “Mas da árvore da ciência do bem e
do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gn. 2. 17). Como observamos no
inicio desta apostila, o pecado degenerou essa consciência moral pervertendo ao
homem, que caído esta no pecado. Quando falamos em caráter missionário estamos
nos referindo a pessoas que, primeiro foram salvas tiveram a experiência do novo
nascimento, foram batizada nas águas declarando ao mundo que não pertencem mais
ao sistema mundano de viver, receberam o revestimento do Espírito Santo e foram
aperfeiçoadas no ensino da Palavra de Deus e agora receberam a chamada para o
ministério de missões.
Portanto,
esta pessoa precisa apresentar certas qualidades importantes que vão confirmar
sua chamada e comprovar que estão aptas para o trabalho missionário, uma vez
que, precisam compreender que vão entrar num campo de batalhas, ou seja, vão
invadir a casa do valente e tomar-lhe os bens, as almas e transportá-las para o
reino do Filho de Deus.
2.1 Qualidades
essenciais ao missionário
A. Uma
chamada pessoal definida At. 13. 1 – 4;
B. Visão
espiritual para a obra.
1. Deve-se
ter propósito firme e função dinâmica;
2. Pessoas de
relações sensitivas e mentes abertas;
3. Pessoas
de igreja, do autoconceito de sua missão na terra;
5. Pessoas a
par do tempo, ou seja, conhecedora e atualizada dos tempos em todos os
sentidos;
6. Pessoas
de mentalidade de servo;
7. Pessoas
de ação em vez de ambição e posição.
2.2 As
qualidades indispensáveis para o missionário (a)
1. Enraizado
em Cristo com uma profunda experiência pessoal;
2. Firme e
ancorado na Palavra de Deus, com doutrina sã;
3. Cheio do
Espírito Santo;
4. Bem
ajustado e ligado com a igreja e seu trabalho;
5. Boa saúde
física e mental;
6. Estabilidade
emocional;
7. Atitude
amadurecida;
8. Controle
dos sentimentos, tais como, preconceitos sociais, raciais etc.
9. Auto
Controle;
10. Conduta
sexual irrepreensível;
11. Interesse
ativo na humanidade e seus problemas;
12. Compreensão
e paciência;
13. Habilidade
de comunicar-se
14. Personalidade
otimista.
Existe
ainda uma qualidade que requer de nós uma atenção especial, esta qualidade é indispensável
e precisa estar enraizada em nosso caráter, principalmente se a igreja de Jesus
deseja realizar o ide, ou seja, a grande comissão. No Evangelho segundo
escreveu Mateus no capitulo 9 e verso 36, a Palavra do Senhor nos revela o
motivo pelo qual Jesus era impulsionado a realizar a obra de Deus diz o verso: “E, vendo a multidão, teve grande compaixão
deles, porque andavam desgarrados e errantes, como ovelhas que não tem pastor”.
O amor que Jesus sentia pelas almas, o seu sentimento de empatia o levaram a
cumprir sua missão de morrer na cruz e prol do homem pecador. Este amor é a
qualidade de um caráter transformado e é também a prova de ser um discípulo de
Jesus, “Nisto todos conhecerão que sois
meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” Jo. 13. 35. ARC.
Podemos perceber
que, esta é também a qualidade que testifica que o Espírito Santo opera em nós “E a esperança não traz confusão, porquanto
o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi
dado” Rm. 5. 5. ARC. O apostolo
Paulo, sabendo da importância dessa qualidade na vida cristã nos afirma que não
adianta nada, falar em outras línguas, ter dons espirituais, distribuir
dinheiro aos pobres e até mesmo ser queimado vivo, se não houver amor em nossas
vidas para nada servirá (1 Co. 13. 1 –
8). O caráter missionário é baseado nas atitudes de amor que os salvos
passam a ter pelas almas perdidas, essa compaixão é que nos faz renunciar até a
nossa própria vida em prol de outros. Missões não é status, missões não é posição,
missões não é popularidade, missão é; crentes que receberam o amor de Deus
tiveram seus pecados perdoados e agora impulsionados por este amor de Deus (Jo. 3. 16), decidem dedicar as suas
vidas para levar almas o conhecimento de Deus, seu plano redentor e o meio pelo
qual se pode chegar aos céus, Jesus (Jo.
14. 6), aqueles que estão sem esperança.
Conclusão
O tema proposto neste pequeno
trabalho é empolgante, profundo e fascinante e necessita de muitas reflexões
diárias. No atual momento da história da humanidade e igreja, precisamos vivenciar
uma espiritualidade ativa, além-templo uma espiritualidade distinta da suposta
espiritualidade oferecida pelo mercado do sagrado. A verdadeira espiritualidade
não é aquela que aceita tudo e todos, mas, sim aquela que é vivenciada no
caráter transformado a imagem e semelhança de Cristo. A espiritualidade está
intrínseca no caráter daqueles em que o Espírito Santo habita, que Deus nos
abençoe e que possamos alcançar a estatura de crentes consagrados e
compromissados com o Senhor, com a igreja e sua obra, anunciando as boas novas.
Amém!
Este artigo
foi elaborado por Ev. Marcos Moraes de Paula.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA. João Ferreira
de. Bíblia Sagrada. Ed. Revista e Corrigida – São Paulo. SBB 1994.
ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico. Rio
de Janeiro. CPAD 1998.
LOPES, Hernandes
Dias. As Faces da Espiritualidade. São
Paulo. Ed. Candeia 2000.
KAIRÓS, Preparando missionários para o século XXI.
Ed. Kairós 1998.
NEE, Watchman. O
Homem Espiritual. Belo Horizonte. Ed. Betânia 2001.
REFERÊNCIAS
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