Mitos & Logos
Mitos & Logos
O
prólogo joanino é uma das passagens neotestamentária mais debatidas entre os
estudiosos, uma vez que diferentemente dos evangelhos sinóticos, João apresenta
Jesus a partir não de uma linhagem humana como o apresentam, por exemplo,
Mateus e Lucas e sim como o logos, ou seja, a encarnação do verbo divino,
porquanto não possui início e nem fim de dias sendo Ele o próprio Eterno.
O
conceito de Lógos já era bem discutido no período em que João o aplicou, o
apóstolo o concebe de modo inteiramente novo, atribuindo-o a uma preexistência
divina que se encarna e vive como um homem neste mundo.
O
Logos como já citado era um conceito e personagem principal e seus diversos sentidos
debatidos nas mais diversas teorias: o logos como princípio cósmico como em
Heráclito, como princípio divino, criador e ativo dos estoicos; um conceito em
referência a sabedoria veterotestamentária; uma inspiração de João; a palavra
criadora descrita no livro Gêneses etc.
A
aplicação do título de Logos para Jesus, por João, contrapõe-se a linguagem
específica do mythos quanto à teogonia, mesmo que esses termos sejam muito
próximos, porém distintos, mythos não necessitava de demonstrações racionais,
suas percepções eram mais intuitivas expressa numa linguagem fantasiosa objetiva.
CHAUÍ, 2011, p. 175 diz: Logos é a palavra racional do conhecimento do real. É
discurso (argumento e prova), pensamento (raciocínio e demonstração) e
realidade (ou seja, os nexos e ligações universais e necessários entre os
seres). Portanto, o logos Joanino é a palavra do Criador na palavra humana não
somente objetiva, mas também subjetiva é a manifestação do ser incondicional
agora em corpo humano visível. Totalmente diferente da linguagem mitológica
abstrata, objetiva, imaginária. Não estamos aqui, querendo descartar a
importância da linguagem mitológica para o seu tempo e sua influência no
desenvolvimento da filosofia, visto que mythos e lógos são duas formas distintas
de pensamento.
O Mythos segundo CHAUÍ, 2011 p. 32 era uma narrativa
sobre a origem de alguma coisa, sendo um discurso pronunciado ou proferido para
ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que
narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e
confiabilidade da pessoa do narrador. O mythos por vezes, falava de coisas sem
base na própria realidade, não se importando com a veracidade dos fatos
narrados.
É justamente
neste ponto que percebemos a diferença racional entre esses dois conceitos, o
mythos e o Logos. O logos do prólogo joanino é apresentado como aquele que veio
como poder divino manifesto no mundo físico dos homens, a Palavra criadora revelando
que o Criador está interessado em sua criação. O mythos tinha como função
narrar histórias de deuses com o fim de apresentar a origem do universo e do
relacionamento dos homens com tais deuses, porém nunca conseguiu suprir os
anseios humanos por utilizar uma linguagem fantasiosa por vezes irracional, é
bem verdade que está linguagem também produzia um senso do sagrado. Como
resultado, os mitos se tornaram a base para o politeísmo.
Portanto, o que podemos aplicar da linguagem
mitológica no logos joanino é a fórmula narrativa, da palavra abstrata para a
palavra racional (logos), visto que o mito era a tentativa de explicação da
realidade através de histórias fantasiosas sobre forças antagônicas, João
trabalha o logos de forma narrativa, porém desenvolve algo completamente novo
atribuindo uma preexistência divina que se encarna para conviver como homem no
mundo dos homens, verbo encarnado, palavra ativa real que produz verdadeiro
sentido. O mythos apresentava as diversas relações humanas e divinas através de
símbolos, João apresenta a Palavra (logos),
como palavra criadora, a realidade existencial do ser criado, palavra viva é
eficaz.
REFERÊNCIAS
CHAUÍ.
Marilena. Convite à Filosofia. Ed.
Ática, São Paulo, 2000.
Marcos
Moraes de Paula
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